quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Insónia matinal

Eis-me aqui. Debruço-me sobre este pedaço de papel interrogando a tua súbita ausência. 
Espero por ti, impávida e serena. Sei-me obstinada, por isso esperarei sempre por ti. 
Mesmo tendo plena consciência de que nunca virás... Esperarei por ti. 
Curioso, como tudo é engano quando acompanhado pelo baralhar do tempo.
E cá vou vivendo (ou sobrevivendo) envolvida nesta quantidade ignota de porquês, neste cofre fechado a sete chaves sem qualquer tipo de codificação.




segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Reflexo

Passados trinta minutos o olhar era o mesmo. A tristeza daquele olhar não tinha mudado e a vontade de mudar também não.
E ali estava eu, tal qual como os outros me viam. Mas será que eu vejo o mesmo que eles? Será que quando eu me olho ao espelho não vejo uma imagem distorcida da minha aparente personalidade? Ou será que são os outros que não conhecem o meu verdadeiro eu?
Bom, quanto a isso nunca chegarei a nenhuma conclusão.
O reflexo que o espelho me transmitia era completamente desconhecido. Perguntei-me até se era realmente a minha imagem que ali estava exposta. Não demorou muito tempo para eu perceber que sim, que era a minha pessoa de facto.
Aquele olhar estava carregado de mágoa, de desilusão, de arrependimento. A pessoa que estava do outro lado era agora uma pessoa mais fria, mais cansada da vida do que fora outrora. Porém, bem lá no fundo daquele olhar podia-se contemplar uma certa esperança, um brilho de alguém que já fora feliz, já provara do gosto fantástico que é atribuído à vida. Muito provavelmente, esse momento de felicidade teria sido vivido quando a sua única preocupação era que cor dar ao desenho por pintar que ali estava à sua frente. Mas não interessa, essa pessoa, de uma forma ou de outra já fora feliz, ou melhor dizendo, já tivera momentos felizes.
Era alguém repleto de sonhos, e quando se proferiu a palavra "sonhos", a pessoa que estava do outro lado esboçou um sorriso espontâneo. Eram os sonhos que lhe depositavam a pouca segurança que ainda tinha.
Mas a sua vida não eram somente sonhos (assim como não é a de ninguém).
A sua angústia provinha de problemas mal resolvidos, de pessoas deixadas para trás e sobretudo de relações afectivas.
Hoje ela só tinha de resolver o passado para poder seguir em frente e enfrentar a todo o custo o futuro.
Podia ler-se na sua expressão que era uma pessoa séria, determinada e pouco ou nada tolerante. Aparentava uma postura rígida, de quem diariamente instituia regras na sua vida. Por isso, tudo o que estivesse fora dessas regras, ela declarava como sendo errado.
Tinham passado mais quinze minutos e a pessoa que estava do lado de fora do espelho desistiu. Desistiu apenas porque não quis enfrentar a nova realidade, a mesma realidade com que se deparara num tão curto espaço de tempo.
Não acreditava na pessoa em que se tinha tornado e nas inconcebíveis transformações que foram ocorrendo ao longo do tempo.
Aquele olhar triste começou a ficar distante. A luz que estava acesa foi apagada e a pessoa que estava ali sentada a observar a sua imagem no espelho foi-se embora.