sexta-feira, 7 de março de 2014

Inês Pedrosa- O êxodo

Partir depressa. A frase que mais ouço aos adolescentes próximos. Repito-lhes que não é assim, que a felicidade é possível nesta terra. As minhas palavras estão todas erradas: a felicidade não lhes interessa, a repetição não os demove, os nãos dos mais velhos cheiram ao ranço do paternalismo. Move-os o sonho de iluminar as coisas. E todos os dias são fustigados por exortações à mediocridade bem organizada.
Estive com alunos de uma escola secundária de Vila do Conde e pedi-lhes que não desistissem da língua portuguesa. Atingiram o décimo ano de escolaridade e não lhes ocorre um só escritor português de que gostem. Ou de que, pelo menos, não gostem. Desconhecem.
«Não gosto d'Os Maias!» aventurou-se um, lá de trás, protegido pelas cabeças prontamente concordantes dos outros. Disse-lhes que saltassem as páginas de introdução e mergulhassem na história. Prometi-lhes que, se o fizessem, iriam gostar. Olharam-me com pena. O mesmo olhar que me devolvem os adolescentes mais próximos, aquele olhar que diz: «és tão ingénua, tu; habituaste-te, coitada; acreditas no futuro deste país, na salvação através da palavra e no amor eterno. O destino te proteja, que nós não vamos ficar aqui, à espera de contar côdeas quando formos velhinhos, mancando a caminho das repartições de Finanças com papéis na mão a perguntar, se faz favor, se não houve um enganozinho».
(...)

Disponível em http://sol.sapo.pt/inicio/Opiniao/interior.aspx?content_id=100604&opiniao=Opini%E3o

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